quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Good-bye is all we have.

Good-bye is all you have. Good-bye. Bom modo de iniciar uma comunicacao. Sem cedilhas ou acentos, porque encontro-me em Belfast, e, embora esteja ao computador da filha minha, é terra estrangeira, e muita coisa aqui parece diferente.
Parece estranha demais. Nao sei onde estou. Se no Reino Unido... por que sao irlandeses? se na Irlanda... por que sao tao ingleses? E há uma estranha divisao de bairros aqui. Uns protestantes, outros catolicos. Parece a mesma que vejo no Brasil. Uns neo-pentecostais, uns-nada. Uns ricos, uns pobres. Uns que insistem em ser coisa que nao sao. Outros que tem medo de deixar de ser o que estao.
Os carros rodam a inglesa. Fico tonto. Para onde olho? A direita? náo. agora deves olhar para a esquerda. E o cruzamento é em x.
Na minha terra, tenho que olhar para todos os lados. Corro o risco de ser assaltado.
Os precos sao otimos. Nem parece que estou na Europa. Comprei oito camisas, iguaizinhas aquelas que uso no dia-a-dia, aquelas das quais quero me livrar com urgencia daqui a tres ou cinco anos, quando me aposentar. Por apenas o equivalente a quinze reais cada. Sera o suficiente para me safar dos shoppings brasilienses por um ano. Estou na feira do Paraguai inglesa
Eu me alimento bem. Pago menos de quinze reais por uma comida que, na minha terra, pareceria requintada. Sem suspeitas de saliva esvoacante. Estranha terra onde as pessoas elegantes transitam entre as pessoas elegantes sem parecerem querer ser elegantes.
Ha uma indiferenca total ao que lhes cerca. Aos murals, as pichacoes, aos taxis de cor difererente que circulam so no bairro catolico. A historia. Como seria se se sensibilizassem? ssss... Como seria se nos sensibilizassemos com nossa realidade social? ssss...
O frio nao foi tanto quanto esperado. Os jornais ingleses e do resto do mundo falam do sofrimento dos britanicos neste inverno cheio de neve. Tambem estampam as imagens das tragedias das chuvas brasileiras, com suas dezenas de mortos. Como todos os anos.
Estou longe e estou perto. Olho para o diferente e comparo com o rotineiro. Estou aqui e estou sempre aqui. Viajo para aeroportos distantes, para imigracoes parecidas. O mundo tenta me colocar no lugar em que estou. No terceiro mundo. E a historia com aga maiusculo. Melhor pensar diferente. Nao sou eu. Sao as condicoes do mundo de hoje, com seus terroristas islamicos, com sua alcaeda, com seus malucos. Sao os imigrantes morenos, que nao falam ingles, forcando a barra para uma vida melhor. Para mandar dinheiro para o Brasil. Como os irlandeses faziam anos atras, fugindo da falta de batata, do frio, das fronteiras fechadas, do curral, dos sub-empregos, dos outros bebedores de chá, com seus sotaques, chegando a portos diferentes, a outras imigracoes.
Nao sou eu. Nao somos nos. Sao sempre eles, os que ameacam, que impoem barreiras, os estranhos, que nos olham como estranhos.
Todos sao estranhos e buscam semelhancas, ~cobija~, como diria em espanhol. Buscamos um lar onde estamos. Aconchego num mundo muito frio, nevado, com lobos uivando ao longe. Aconchego para nao lembrar que somos ovelhas tentando ficar proximas para fugir da fome, do frio e do predador.
Sou forcado a publicar por livre e espontanea pressao. Ou por pura tentacao.

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